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A ver Estrela(s): um mergulho na imensidão serrana

Um mergulho na imensidão serrana

Era mesmo disto que precisávamos. Um mergulho na imensidão serrana, com os primeiros laivos de frio a sussurrar magia entre vales glaciares encantatórios, fragas, lagoas e cultura local. Das ovelhas bordaleiras à tecelagem e aos produtos gastronómicos identitários, trilhamos paisagens de cortar a respiração, ouvindo o som do silêncio, entrecortado pela beleza pulsional da mais alta serra continental portuguesa. E vimos estrelas.

  • Texto: Fátima Iken
  • Fotografia: Fabrice Demoulin
26 de Fevereiro, 2025

Há viagens que se trincam, como gomos de prazer, mesmo antecipadamente. O inverno é recolhimento interior, lã e lareiras a crepitar, para saborearmos depois a noção de liberdade em caminhadas sem tempo.
Quando os primeiros ventos gélidos começam a soprar do Norte, há um destino que se cumpre. A Serra da Estrela, esse lugar único onde quase deixamos de falar para respirar fundo, fazer “reset” e palmilhar a pureza agrestemente acolhedora.
Tirar do armário cachecol, luvas, camisolas de lã e casacos quentes é o primeiro passo para o destino que nos espera, com os termómetros a prometerem motivos para tiritar. Mas, ao mesmo tempo, aquecemos a alma com tudo o que esta geografia sentimental tem para nos oferecer. Sim, porque Serra da Estrela é muito mais do que a neve.
 Aqui, não é só a paisagem, mas a faceta humana aconchegante das tradições locais, do artesanato à gastronomia, do fogo às manualidades que nos definem, num dos mais portugueses redutos, até porque este foi também o berço de Viriato.
 Descobrir a orografia da Estrela, desenhada por maciços rochosos, cascatas e cordilheiras austeras, entre os limites de Manteigas, Loriga (Seia) e Unhais da Serra, na Covilhã, é delinear um percurso onde cada reduto inspirador nos deixa, literalmente, de quatro, naquele é que considerado Geopark Mundial da Unesco, o que exibe como a área é zona de riqueza impoluta de biodiversidade. Mas é também esculpir marcas em nós, imergindo na montanha.

Há muito mais para descobrir do que o habitual percurso até à Torre. É um território vastíssimo entre encostas e picos serranos que o viajante com desejo de aventura deve percorrer, apenas precisando de perder algum tempo na planificação prévia da rota.
Começámos o nosso primeiro dia na Covilhã, ponto de partida para incursões à descoberta do tempo perdido, cogitando novos horizontes, num ano que surge fresco e acabado de nascer.
Nas montanhas temos tempo essencialmente para isso. Uma paragem que nos obriga a um mergulho em nós sem olhar para os ponteiros do relógio. 
Nesta viagem, escolhemos esta porta de entrada para a nossa montanha mágica, mas Gouveia, a Guarda, Seia e Manteigas poderiam ser outras das hipóteses. Chegámos mesmo à hora do almoço, com a característica luz branca da altitude a marcar compasso.
A cidade exsuda uma energia contagiante e muito mudou nos últimos anos neste que é, há quase oito séculos, um dos principais centros de lanifícios da Europa. Isso mesmo desenhou o seu caráter, a par da sua ebulição criativa e económica.