

Matilde Noca, tudo em família
Há mais de 30 anos que mãos sapientes dão consistência a este projeto familiar em Leiria. Guardião das práticas tradicionais que garantem a sapidez da cozinha nacional, o restaurante Matilde Noca tornou-se numa referência gastronómica cujo património continua a ser salvaguardado pelos descendentes.
- Texto: Fátima Iken
- Fotografia: Fabrice Demoulin
A sala luminosa, os aromas que sobrevoam o espaço, com vista privilegiada para o imponente castelo de Leiria, confirmam a solidez do projeto. Mais uma vez, o embrião foi uma taberna, e Matilde, a proprietária e excelente cozinheira durante quase 70 anos, recebeu já do pai a alcunha, uma vez que a casa de pasto inicial paterna era conhecida como “a Taberna do Ti Noca”.
Dos petiscos para os pratos tradicionais, a aptidão natural e intuitiva de Matilde à frente dos fogões foi-se apurando ao longo dos tempos, garantindo ao seu talento consistência.
São mais de três décadas a adensar a experiência na arte dos temperos. Ementa simples mas muito consistente, polarizada entre o cabrito assado, a cabidela de galo, o bacalhau na telha ou o rosbife suculento, as matérias-primas de primeira qualidade dão o mote mas é a tradição que impera.
Hoje com 80 anos, passou o testemunho à filha Rita, agora aos comandos dos fogões.



O primeiro espaço a abrir seria em 1991, mas em 2004 renovaram o conceito, ainda com o pai presente, mantendo, no entanto, sempre a cozinha nacional à frente. Situado em Marrazes, povoação nas imediações de Leiria, (Jaime Cortesão fez um elogio particular ao olhar aveludado das mulheres da povoação), terra do finito Tromba Rija.
Os filhos de Matilde, Fernando e Rita, são hoje os herdeiros do legado (o pai que foi também mentor do espaço ) e mantêm de forma impoluta a organização do espaço que conta com serviço atento, preparando já a terceira geração.
Apesar de uma sala generosa, da luz que advém das paredes de vidro, e ambiente moderno, a aura familiar mantém-se, dispondo ainda de um espaço para os mais pequenos.
Mas vamos ao que verdadeiramente interessa. À frente de tachos, panelas e fornos a abeberar sabor, confirmando a aptidão natural de Matilde, a filha Rita conferiu novo alento à ementa, renovando alguns pratos, mas garantindo sempre um equilíbrio entre inovação e tradição.
Há pratos de peixe e carne com dia fixo como o “bacalhau na telha” e “costeleta maronesa” (segunda-feira); “cabrito assado no forno” e “medalhões de tamboril” (terça-feira); “cabidela de galo caseiro” e “grelhada mista de peixe” (quarta-feira) “arroz de tamboril” e “lombinhos de porco preto com bacon” (quinta-feira); “polvo no forno” e “lombinho de vaca recheado com camarão” (sexta-feira); “cabrito assado no forno” e “espetada de tamboril com açorda” e “arroz de pato” (sábado), mas existem vários outros pratos de carne e peixe no menu. O bacalhau surge frito com cebolada, batatas fritas às rodelas e assado com migas, a costeleta mirandesa grelhada, a par da morcela de arroz ou do rosbife.
Destaque ainda para uma diversificada panóplia de entradas, da salada de ovas, de feijão-frade, polvo, orelha, croquetes ou moelas.
Mais um clã em penhado em preservar a nossa memória culinária que, cada vez mais, parece rarear ao longo de Portugal.


