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Cooking

Eugénia Delgado recebe-nos em sua casa, em Porto Moniz, na Ilha da Madeira

Sorriso franco e alegria contagiante, leva-nos à horta para depois preparar o almoço. Tudo começa com a escolha de uma “couve-de-todos-os dias” (que conhecemos como couve-portuguesa).

  • Texto: Célia Lourenço
  • Fotografia: Fabrice Demoulin
10 de Março, 2025

Eugénia, ou D. Eugénia como todos lhe chamam, teve esta ideia de partilhar a sua cozinha ao tomar consciência do quanto os seus filhos gostavam do que
fazia. Os pratos que serve habitualmente a quem a visita são os da sua mãe e não só é fiel às receitas, como também continua a usar os potes de ferro e o lume vivo de uma lareira. Mesmo antes de nos sentarmos à mesa, já nos sentimos reconfortados pelo crepitar da lenha e pelo aroma que se vai espalhando.

De criança, guarda as memórias da mesa, numa altura em que não havia tanta facilidade na variedade do que se comia. A sopa de couve, por exemplo, era recorrente e Eugénia lembra-se de voltar a casa para entregar umas batatas-doces, jantar um pouco de pão com carne desta sopa (o jantar era uma refeição de final de tarde) e ainda regressar ao trabalho na fazenda. À noite, ceava. São sabores que tem na memória e nunca deixou desaparecer. O que parece comida do passado é, na realidade, a verdadeira essência da cozinha, onde os caldos assumem um papel fundamental. Diz-nos que não se admira quando ouve alguém dizer que não gosta de cuscuz, “cozem-no em água e a água nunca deu sabor a nada!”.

Enquanto a sopa está ao lume, Eugénia faz massa para pão de batata-doce (bolo do caco). Separa pequenas bolas achatadas que coloca na panela perto do final da cozedura da sopa. Desta forma, a massa absorve todo o sabor. Depois de cozidos no caldo, os pães secam-se em cima das brasas, o que lhes confere outras tantas camadas de sabor.

Eugénia Delgado diz-se uma mulher feliz. Conseguiu também uma parceria com o Hotel Reid’s (Funchal) que na procura de experiências autênticas para os seus hóspedes, encontrou em Porto Moniz a simplicidade de uma grande mesa.

Uma refeição em casa da D. Eugénia é desfolhar um livro de história da culinária. E no meio das preparações e dos caldos, do peso das panelas de ferro, do tempo que não pode ser substituído para chegar à tal essência do sabor, vem-nos à memória um dos mais belos filmes de gastronomia, O Sabor da Vida (2023), onde Juliette Binoche é a incrível e discreta cozinheira do gourmet Dodin Bouffant. Coincidência ou não, a sua personagem chamava-se Eugénie.

Sopa de couve
RECEITAS

Sopa de couve

Ingredientes:

  • 1 kg de carne de porco (optar por uma carne com pouca gordura – entremeada, por exemplo) // 500 g de batata para cozer // 200 g de batata-doce // 8 a 10 folhas de “couve-de-todos-os-dias” (couve-portuguesa) // 3 l de água // sal grosso

Modo de preparo:

Salgar a carne na véspera;

Numa panela com os 3 l de água, colocar a carne cortada em pedaços generosos e a batata-doce cortada em pequenas tiras;

Tapar e deixar cozinhar durante 45 minutos em lume brando;

“Rasgar” as folhas de couve com as mãos. Adicionar a couve e a batata cortada em cubos de aproximadamente 2,5 cm;

Mexer muito bem para envolver todos os ingredientes, ao mesmo tempo que a batata-doce se vai desfazendo, dando mais espessura ao caldo. Provar e retificar o sal, se necessário;

Colocar a tampa e cozer mais uma hora, em lume brando;

Servir num prato de sopa, colocando primeiro a carne, depois as couves e finalmente o caldo.

Dica:

Serve seis pessoas.