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Living

Mariana Roque do Vale e Carlos Costa Andrade

Quelhas House

Por trás de uma fachada de azulejos da Lapa, descobre-se a alma de uma casa com a assinatura do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, prémio Pritzker 2006.

  • Texto: Célia Lourenço
  • Fotografia: Fabrice Demoulin
11 de Março, 2025

Mariana Roque do Vale e Carlos Costa Andrade, ela produtora de vinhos, ele advogado, vivem em Lisboa com os seus três filhos, Carlota de 19 anos, atualmente em Londres, a estudar, Gonçalo de 16 e Teresa de 13. Abrem-nos as portas da sua casa, na rua do Quelhas, no bairro da Lapa, uma das sete colinas da capital.

Entrar na Casa Quelhas tem duas dimensões.

A primeira é inevitavelmente perceber o amor de uma família pela sua casa, pelo seu abrigo, a outra é participar numa aula de arquitetura e estética – o fascinante e inesgotável ramo da filosofia que estuda o belo -, de rompante, como se tivéssemos mergulhado em mar gelado. Assim, sem aviso.

A casa desenvolve-se em cinco pisos e o movimento de subir a escada, passando pelos vários níveis com os seus códigos em termos de organização familiar, ajuda-nos no processo mental de a compreender. O piso térreo, à cota da rua, divide-se entre a garagem e o jardim. Depois, o piso 1 é totalmente ocupado pelas crianças, enquanto o andar seguinte está reservado para os pais.

Continuando a subir, chegamos aos dois pisos sociais da casa. Primeiro, com a cozinha, sala de jantar e piscina. Por fim, a sala de estar, de pé direito generoso e geometria do teto que manteve o desenho e inclinações do telhado. Este movimento vai sendo libertador, enquanto os pisos mais baixos estão reservados às obrigações e funções humanas mais básicas, trabalhar e dormir, e o terceiro, além de lazer, responde também aos momentos de refeição que, embora sociais, têm por base a necessidade primeira de nos alimentarmos, no último piso chegamos à contemplação. Uma enorme sala que pode ser ocupada por muita gente, mas também pode ser cenário de intimidade com a paisagem, de intimidade com um livro… O espaço para estar, simplesmente.

Os materiais dividem-se em betão armado, madeira, pedra de lioz e mosaico hidráulico, aproveitados em termos estéticos pela sua natureza, sem quaisquer artifícios ou excessos. É curioso que não há um único tijolo envolvido na construção. As paredes não têm revestimento, as cores são neutras. E a luz, quer a natural, quer a iluminação, faz também parte da matéria de que é feita a Casa Quelhas.