Continuando em Presqu’île, a 700 metros do universo Thomas, temos o Rustique. Aqui, a aposta é na cozinha de autor, conceitual e sofisticada, servida num ambiente elegante, ainda que sem luxos vistosos. No fundo, trata-se de um lugar que corresponde ao padrão atual de um restaurante com uma estrela Michelin.
O nome (rústico) pode levar ao engano, sendo que o termo, mais do que a definição de um estilo, deve ser lido como uma filosofia. Neste caso, a proposta anda em volta do território local, ou melhor, de um universo até mais alargado, de Auvergne aos Alpes, do chef Maxime Laurenson.
Como é comum em muitos destes lugares, não há cardápio, apenas um menu de degustação servido em 10 tempos e que vale todos o dinheiro que custa. Os pratos são audazes, por vezes mesmo espantosos, mas também há algum classicismo e perfeição à francesa. De uma forma geral, privilegia-se, além da estética, a surpresa, o sabor e o proveito máximo do ingrediente, que pode tomar diversas formas. Um “pão” crocante de lentilhas de puy, ou uma beterraba camuflada de rosa, só para dar dois exemplos. Também o peixe de rio (ou de lago) é trabalhado de forma admirável ganhando a nobreza de um primo rico do mar. O mesmo acontece com o pombo, que embora seja um produto nobre, é preparado e servido para ser degustado completo, do bico ao pé.
Em termos de vinhos, apesar da carta estar recheada de referências (mais uma vez) da Borgonha, Beaujolais e Rhône a preços muito razoáveis, é interessante fazer o pairing proposto para o menu. Essa opção pode ser gratificante, não só porque foi pensada para o melhor casamento com a comida mas também porque permite conhecer outros mundos, como o dos vinhos menos conhecidos da Savoie ou de micro-terroirs de locais mais remotos.